31 de ago. de 2009

Ao Estado, o nosso espírito


A poesia dos Deuses inferiores
Quebrou as correntes da nossa ignorância!
Não queremos mais feitores!
Guarde para si a sua arrogância,
Somos livres agora!
Irmãos guerreiros de Angola
Nesse quilombo chamado Periferia
!
Quem diria?...
É o milagre da poesia,
Recrutando
homens de casas simples
E de almas bravias
A vigiar a paz
Noite e dia
Para que não haja mais guerra
.
Graças a um anjo torto
Aprendemos a caminhar
com o sorriso no rosto,
E com os punhos cerrados!
E agora Estado,
Eis o nosso espírito!
O estado em que nos colocou...
Somos a Periferia unida
Pelo amor, pela dor e pela cor...
Agora,
Somos rocha,
Onde a vida queria grão de areia,
As flores que brotaram no lixão
...
O fruto de um jardineiro louco, desacreditado
Que dispensou a nós toda a sua dedicação.
E agora Estado,
Depois de nos dar migalhas
Quer comer do nosso pão?
Nos
botecos de esquinas,
A vida não acontece por decreto

E a Arte que liberta
Não pode vir da mão que escraviza...
O sonho socializado
Se tornou real
E
no sonho,
O dinheiro foi morto no combate com o amor.

28 de ago. de 2009

Agora


Agora,
A bebida nos entorpece...
Faz de nós loucos amantes
E o agora, já não é como o antes,
O toque de Dionísio, apenas aquece.

Agora,
No lugar da falsa gargalhada,
A mistura dos nossos sentidos;
Toques, cheiros, gostos e o sussurrar nos ouvidos...
Não há vazio, seus olhos fazem dos meus, morada.

Agora,
Tudo mudou afinal!
Aquela casa abandonada e sombria,
Encheu-se de esperança e está repleta de alegria,
Que tenho a sensação de estar em pleno carnaval!

27 de ago. de 2009

Antes


Antes,
A bebida me anestesiava...
Preenchendo momentaneamente
Essa sua presença ausente,
E só assim eu suportava.

Antes,
Minhas falsas gargalhadas
Ecoavam com tristeza em meu vazio,
Em meu vasto coração sombrio,
Como que em casas abandonadas...

Antes,
Procurando uma saída,
Abri os meus braços de amiga,
Como uma porta velha e antiga...
Rangendo, pela ferrugem corroída.

Lid's


Menina leoa com a juba trançada
Rugindo poemas com voz de trovão.
Menina por sonhos alimentada,
Um farol de luz ante a escuridão.

Menina que luta, embora cansada,
Travando batalhas com sua razão.
Com a força do vento foi abençoada
E os ventos do norte dão a direção.

As porradas que recebe da vida
Revelam o dom de sua incrível magia!
O poder de estancar as suas feridas,

E diluir a sua dor em suas alegrias.
Por isso é que amo essa amiga querida,
Essa menina leoa que é toda poesia.

26 de ago. de 2009

Pequenos malabaristas


Hoje eu os vi...
Eles estão no caminho sempre;
É só olhar pela cidade,
Nos semáforos estão presentes...
Fazendo balabarismo,
Chamando a atenção da gente.
Mas temos tantos problemas
Que agimos indiferentes...

Mas hoje eu os vi.
Hoje eu os vi realmente!
Não do jeito que via antes,
Mas com um olhar diferente.
Geralmente eu os via de dentro do carro,
Fechada...
E eles se apresentando nas ruas,
Nas calçadas...

Mas hoje foi diferente
Porque estavam muito próximos de mim.
Estávamos no mesmo ônibus
Voltando para casa...
Enfim,
Pude ver seus olhinhos brilhantes,
Ouvir suas risadas escachadas...
Mas riam de suas tristezas
E não de coisas engraçadas.

Riam do frio que sentiam,
Riam da falta de carinho,
De um menino que comia no Mc’ Donald’s
E não ofereceu nem um pedacinho...
Ah! Eles riam de tudo...
Até a fome era piada...
E nem ligavam pro desconforto
Daquela condução lotada.

Foi então que me dei conta
Da minha alienação...
Eram apenas crianças lutando pra ter o pão!
Senti o coração apertado
Batendo dentro do peito,
Vontade de mudar o mundo,
Mas só, não tinha jeito...
E essa minha medíocre impotência,
Enojava todo o meu ser!
Vendo tudo tão errado,
Sem nada poder fazer...

23 de ago. de 2009

O amor verdadeiro


Achar que um amor verdadeiro não morre,
É um engano...
Não cuide dele pra ver!
O amor verdadeiro é vivo,
Nasce espontaneamente,
Cresce... e também pode morrer.
Surge como semente,
Sujeito a transformações...
E é como um ser independente,
Não obedece a ordenações.
Com o tempo,
Pode sofrer metamorfoses,
Virar amizade, ódio, desprezo, tormento...
Pode até disfarçar-se de outros sentimentos!
Mas uma vez plantado,
Morre se não for cultivado.
O solo não interfere em sua longevidade...
Mas quem jogou a semente,
Fica com a responsabilidade.
Por isso,
Não prometa amor eterno,
É antiético!
Amor eterno é como flor de plástico,
Irreal, sintético.
Seja como for...
O que se espera de um amor bem cuidado,
É a perda da própria vida,
Antes da perda do amor.

Meu deserto


Ao atravessar meu deserto,
Vi em você o Oasis...
Feliz, achando minha salvação,
Continuei caminhando o meu deserto
Sedenta em sua direção...
Quanto mais me aproximava,
Mais distante ficava...
Atirei-me com coragem!
Ilusão...
Senti apenas a areia
Escapando pelos vãos da minha mão...
Era só uma miragem...

22 de ago. de 2009

Olhos nos olhos


Fecho os meus olhos, procuro não ver
E em meu pensamento, vejo você.
Abro os meus olhos e não posso crer,
Seus olhos nos meus, buscando um por quê.

Parece loucura o meu sangue a ferver...
Por que tanto olha buscando um por quê?
Quem sou eu pra explicar esse louco poder?
Essa fixação me prendeu a você.

Nas suas palavras, o gosto do fel...
Nos seus olhos uma contradição,
Um convite, passaporte pro céu...

Seu ato verbal atrapalha a emoção;
E eu calo a sua boca e arranco o seu mel,
Sem dar espaço para a sua razão.

20 de ago. de 2009

É inútil...


A tentativa de nos mantermos afastados,
Longe corporeamente...
Não tem funcionado...
Sinto que caminhamos juntos mentalmente...
Tentamos nos esquecer em outros casos,
Mas um no outro ainda se faz presente...

Eu que era tão inconstante!
E você com sua rotina de amante...
Assim, de repente...
Sem conseguir fugir do que sente...
E eu assim, em suas mãos, presa, tão vulnerável...

É um magnetismo que nos arrasta,
Uma vontade que não passa...
E uma fuga que sempre termina
Na nossa respiração descompassada,
Com línguas e mãos afobadas...
Braços em abraços,
Pernas entrelaçadas...

Juntos pela mesma emoção,
E sempre divididos por uma única razão:
Querer não é poder!
Assim como querer é poder...
Mas... quem sabe com certeza pra dizer?
Não conseguimos nem usar adequadamente ambas as frases!
É inútil!

Por fim,
Parafraseamos tudo o que na verdade não sentimos...
Em um jogo de autodomínio,
Não nos assumimos...
E presunçosos,
Ignoramos o ardor no peito,
Tentamos desviar o pensamento,
Lutando contra toda essa intensidade...

18 de ago. de 2009

Alimento de poeta


Devorei mais um livro!...
Agora, tenho minha alma poética alimentada!
E quando achar-me novamente esfomeada,
Servir-me-ei do banquete das palavras até sentir-me saciada!

Um poeta que se preze
Deve armazenar mantimentos:
Sonhos, pôr-do-sol, luar, ventos...
Tudo pode faltar, menos os sentimentos.

Então, que fiquem na minha estante
Como alimento trivial para alma e inspiração,
Já que livros são considerados por mim refeição,
Na mesa da minha poesia, não há de faltar o pão!

O Craque


Droga!
Há treze anos minha família morreu...
Foi quando meu irmão virou craque.
Ele nunca foi um grande jogador...
Mas encontrou pedras no caminho
E se perdeu...
Droga!
Ele virou craque.
Dizem que vida de craque é curta,
Que dura em média cinco anos.
Que grande engano!
Lutamos juntos há dezessete anos
E há treze, estamos todos mortos...
Sem direito ao céu,
Sem purgatório...
Droga!
Agora...
Vivemos todos no inferno!

17 de ago. de 2009

Eternizando...


Disparei a escrever versos sobre nós...
Acho que nunca estive tão inspirada!
Ainda sinto o teu cheiro, ouço a tua voz,
Sinto tua pele na minha colada...

Então minha caneta corre veloz...
Lembranças que me deixam extasiada.
A doce paixão vivida por nós,
Ficará no papel eternizada!

Pois se o tempo apagar, posto que é chama...
Há de ser sempre a lembrança querida!
A história de quem vence o medo e ama,

Deixo com detalhes enriquecida.
Não é mais um ímpeto de paixão insana...
Só quero que jamais seja esquecida.

Tormento


Vesti armadura após minhas batalhas...
Depois de estar ferída e derrotada
Corri e singi meu peito amedrontada.
Só tive meus filhos como medalhas.

E achando-me segura e bem armada,
Saí me aventurando em novas batalhas.
Mas você derrubou minhas muralhas...
Desarmou-me, deixou-me apaixonada !

Me vejo agora a um passo da loucura...
Aprisionada pelos pensamentos
A recordar nossa feliz ventura.

Sigo a tratá-lo com comedimento,
E vou correspondendo a sua ternura.
O medo de perde-lo é o meu tormento.

13 de ago. de 2009

Minha melhor amiga!


Tudo que sou, devo a minha mãe.
Estamos ligadas por um forte nó.
O cordão umbilical foi rompido apenas na matéria,
Ainda somos quase uma só.
Guardiãs dos nossos segredos,
Reclamados e cobiçados a esmo por toda a família...
Quando nos pegam de risos e cochichos
Transbordam em ciúme feito bichos,
Mas não tem jeito...
Somos mais que mãe e filha!
Somos amigas, cúmplices, parceiras...
O alicerce da família!

Das histórias da sua infância,
Lembro-me de como transformava tudo com criatividade,
Mangas que viravam boizinhos,
Pedaços de paus em comadre e compadre.
Sempre cheia de responsabilidade...
Pequena, cuidava do almoço da família,
Criava a irmã caçula como se fosse filha;
E mesmo desenvolvendo maturidade desde a tenra idade,
Nunca deixou de ser criança!
O tempo insistiu em branquear os seus cabelos,
Mas o espírito em uma eterna infância,
Ainda vive a sonhar, ainda sonha a brincar...
Ainda nos enche de esperança!

A mãe que gritava com o chinelo na mão...
Um chinelo ameaçador!
Não batia... só impunha respeito
Tamanho era seu amor!
Brincava com a gente, ajudava com a lição...
Lia pra gente Eça, Machado, Jorge Amado...
Dando ênfase com comentários
Tentando prender nossa atenção...
Apresentou-me a poesia nos livros de JG.
O carimbo da biblioteca indicava que gostava tanto do livro
Que nem voltou para devolver...
E pela sua admiração e incentivo,
Comecei também a escrever.

Tudo que sou devo a minha mãe!
Um dia, vou ser tão grande quanto ela!
Em estatura, já sou maior...
Mas quando eu conseguir alcançar a grandeza de sua alma
Tenho certeza que serei alguém melhor!

12 de ago. de 2009

Amigos


Amores de paixão vêm e vão...
Mas os amigos, sempre ficam.
Independe de se estar bem ou não,
Garantem luz na escuridão.
O amor que nasce da amizade,
Sempre abre possibilidades de uma eterna união.

A história das drogas


Era uma vez...
Era só mais uma vez...
Era a última vez.
Era só desta vez...
Era outra vez
E outra,
E outra...
Eram várias vezes,
Eram muitas vezes...
Foi se repetindo...
Foi-se uma vida!

11 de ago. de 2009

Bem resolvida


Tenho conhecido muita gente boa,
Recebido muitas propostas indecentes...
Que me perdoem as gatinhas e as leoas,
Mas continuarei saindo pela tangente.

Respeito, que cada um goste de quem quiser;
É que não sinto desejo algum por mulher!
Também não tenho nada contra o vibrador,
Mas é que eu gosto do cheiro, da textura, do sabor...

Sou louca pelos homens!
Tenham o peito pelado ou peludo,
Para mim tanto faz...
Meu desejo por eles é absurdo!

6 de ago. de 2009

Vulnerável


Sou vulnerável a paixão!
Aos beijos,
Aos cheiros,
As mãos,
Aos olhares,
A transpiração...
Vulnerável!
Quando o silencio diz muito
E as bocas tão pouco...
Quando me amam com calma,
Quando amam feito loucos...
Vulnerável...
Ao encontro das almas transbordando pecado,
Ao amor ilícito
E ao ajuizado,
Ao consciente,
Ao devaneado.
Sou completamente vulnerável a paixão!
Vulnerável aos que tocam o meu corpo
E atingem meu coração...

5 de ago. de 2009

Um brinde aos presentes da vida!


Um brinde à vida!!!
Pelos presentes queridos:
Pais, filhos, paixões e amigos!

Aos meus pais!
Por tudo o que hoje sou;
Pelo amor e paciência
Do ventre ao teto que me abrigou.

Aos meus filhos!
Por despertarem o melhor de mim!
E por tudo o que por eles ainda almejo ser...
Pelo dever de plantar boas sementes
Para vê-los fortes e firmes a crescer!

As paixões!
Pela inspiração da poesia!
Pelas emoções, pelas fantasias...
Por cada lágrima vertida de dor ou de alegria!

E aos amigos!
Aos amigos de toda a espécie...
De boa ou de má conduta,
Aos filhos das Santas e aos filhos da puta!
Aos vagabundos,
Guerreiros que estão juntos na luta!

Um brinde aos amigos!
A divisão de tudo o que há em mim!
Paixões, poesias,
Sonhos, planos e afins...
A toda essa amizade, enfim.

Mesmo ponham fogo em dinheiro
E até quebrem taças!
Brindemos a vida e essa sã loucura!
Com tubaína, vinho, cerveja e cachaça!


Vida... morte... vida!


A morte convoca,
A vida suplica.
A morte sufoca,
A vida se finda.
A morte evoca à vida...
Bem vinda!
A morte é sorte
De vida infinda.

3 de ago. de 2009

Soneto aos Camelôs


Vejam! Tem camelôs no calçadão...
E estão sempre ocupando as ruas, a praça...
Neste mercado informal do povão,
Encontramos de tudo, até cachaça!

Mas são acusados de sonegação,
De venderem os produtos piratas...
De pirataria se fez a nação!
Cruzando oceanos, causando desgraças!

Hoje o camelô é visto como praga
Que se espalha pelos centros urbanos!
Mas, sua conta o sistema não paga,

São vítimas do capitalismo a anos!
No desemprego que o governo afaga,
Ter uma barraquinha é o melhor plano!

2 de ago. de 2009

Sensatez


Eu, tentando evitar o sofrimento,
Escondo minhas verdades, faço arte,
Finjo dominar os seres de Marte,
Brigo com o meu próprio sentimento...

E meu coração covarde se parte
Transformando paixão em comedimento.
Sei que viver assim é um tormento.
Já deixou a loucura arrebatar-te?

Aconteceu comigo... sei como é...
Sem aviso, te lanças do céu ao chão!
E difícil, é te pores em pé.

Então prefiro ouvir minha razão...
Manter-me sóbria ao fluxo da maré
Para evitar a embriaguês da emoção.

1 de ago. de 2009

Em estado febril


Minha mãe me deu mais um sermão:
Filha, você não pode ficar bebendo!
Tem problemas de pulmão, fígado e coração,
Quer ir parar num caixão?

Tem quatro filhos pra criar,
Só posso contar com você pra me ajudar,
Você tem que se cuidar,
Não pode nos abandonar!

Ah minha mãe!
Essa febre causada pele bebida não é nada...
Deixa-me aqui quieta, sossegada,
Afogando minha mágoa...

Meu maior problema, não é físico não,
Meu maior problema,
É o excesso de emoção!
Me encontro adoecida de paixão.

Prefiro essa febre de agora
Que curo com medicação,
Porque o estado febril de outrora,
Não sarou nem com o copo na mão.